Nossa oficina aconteceu na Sala de Dança do Curso de Educação Física/UFAC, onde pudemos organizar nosso planejamento, cronograma, executar as atividades e testar os materiais para os novos brinquedos que iremos utilizar.
Partimos da pesquisa realizada pela Profa. Dra.
Artemis Soares[1], junto aos povos Tikuna do Alto Rio Negro (AM). As brincadeiras envolvem uma boa variedade de formações como colunas, fileiras, rodas, e ações como corridas, pega-pega e esconde-esconde, utilizando figuras de animais locais como o gavião e a onça além de figuras mitológicas como o curupira.
Começamos com a brincadeira "sol e lua" ou "üacü rü tawemüc’ü". Segundo a professora Artemis:
Essa brincadeira também é
conhecida em outras localidades com outros nomes como Passará de bombaré. As
crianças ficam dispostas em coluna por um, segurando na cintura do que está à
frente. Duas outras crianças, representando o sol e a lua, fazem uma
"ponte", mantendo as mãos dadas acima. Cantando, as crianças passam
sob a ponte várias vezes. Numa das vezes o Sol e a Lua prendem o último ou os
dois últimos. Perguntam-lhes para que lado querem ir. A criança escolhe e vai
colocar-se atrás do Sol ou da Lua. E assim continuam até terminar. Quando todas
as crianças passam, têm-se dois partidos. A duplas mantém os braços dados, e
todos se mantêm segurando na cintura do colega da frente. Vão puxar-se, para
ver que partido ganhará. Ganhará aquele grupo que conseguir "puxar" o
outro. E puxam várias vezes, marcando ponto para quem consegue derrubar ou
desarticular o outro partido. Nesse jogo vê-se não somente o uso da força.
Surge a questão do poder de decisão, que é colocado em evidência. É dada à
criança a opção de escolha do partido ao qual quer pertencer. Além disso, é
também trabalhada a noção de equipe, de conjunto, pois é todo um partido
fazendo força para puxar o outro partido.
(sol e lua)
Uma
criança mais forte é escolhida para ser o gavião, ave forte e comedora de
pintinhos. Outra criança representa a galinha, que fica de braços abertos,
tendo atrás de si todos os seus pintinhos. O gavião corre para tentar comer um
dos pintos, mas só pode pegar o último. A galinha tenta evitar dando voltas e
mais voltas, impedindo que o gavião pegue seu pintinho. O gavião só pode pegar
o pinto pelos lados e não pode tocar por cima. Quando ele consegue, come o
pintinho, ou seja, a criança fica de fora da brincadeira. Algumas vezes a
criança passa a ser também gavião.
(gavião e galinha)
Fizemos então um momento de discussão da vivência e descontração do grupo para retomar com mais vontade de brincar e aprender.
Brincamos também de "melancia" ou "woratchia". A pesquisadora Artemis Soares relata que:
As
crianças representam as melancias, espalhadas pelo terreno. Existe o dono da
plantação de melancias, que fica cuidando, com dois cachorros. Existe outro
grupo, que representa os ladrões, que vêm devagar, e experimentam as melancias
para saber quais estão no ponto de colheita, batendo com os dedos na cabeça das
crianças. Quando encontram uma melancia boa, saem correndo com ela. É aí que o
cachorro corre atrás do ladrão para evitar o roubo.
Depois passamos a fazer a brincadeira "briga de galo" ou "ota arü nü". Soares informa que:
As crianças organizam-se aos pares, em apoio numa das pernas, segurando no tornozelo da
perna livre flexionada para trás. A outra mão fica ao peito. Ao sinal, uma
criança tenta desequilibrar a outra, empurrando com o ombro. Ganhará aquele que
conseguir ficar mais tempo em equilíbrio, ou seja, aquele que levar menos
tombos. Vê-se que este é um jogo de disputa acirrada. Entram aqui as qualidades
de equilíbrio, força e atenção. Cada criança quer manter-se de pé, e faz de
tudo para derrubar o colega. Um não pode perder o controle sobre o outro, sob
pena de ser derrubado.
Os bolsistas do PET-Indígenas nos ensinaram a fazer diferentes trançados do jogo conhecido como "jogo da vida", "cama de gato", "jogo do fio".
A
professora de Educação Física Denise Guerra[1],
nos informa que:
A cama-de-gato é uma brincadeira com barbante.
Consiste em trançar um cordão entre os dedos das duas mãos e ir alterando as
figuras formadas. Os vestígios históricos apontam sua origem provável para as
regiões asiáticas, africanas ou ainda para os povos pré-colombianos das
Américas. A brincadeira é praticada em diversas partes do mundo. Atualmente
nossas crianças brincam trançando elásticos nas pernas que poderia ser uma
versão mais moderna do jogo dos fios.
A brincadeira pode ser feita por uma pessoa apenas, mas, também pode ser feita em duplas, trios ou grupos maiores.
Estiveram conosco neste dia, além dos bolsistas a tutora do PET-Indígena - profa. Célia Collet - e a profa. Aleta Dreves, colaboradora do PET-EF desde 2008.
Foi mais um dia de trabalho e diversão.
[1]
Professora
associada na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), atuando na área de
Antropologia do Desporto, com ênfase em temas voltados a diversidade cultural e
estudos sócio-culturais-desportivos, além de corporeidade e rituais dos povos
indígenas e atividade física escolar. Graduada em Educação Física e Letras pela Universidade Federal do
Amazonas, realizou mestrado em Educação Física pela USP e doutorado em Ciências
do Desporto na Universidade do Porto. Realizou Pós-Doutorado (1) na Université
Paris-Descartes (França), com investigação sobre “Jogos Tradicionais de Povos
da Amazônia” sob a coordenação do Prof. Dr. Pierre Parlebas. Em seguida
realizou Pós-Doutorado (2) na Université Rennes (França), onde desenvolveu
estudos centrados na prática de futebol pelos indígenas. E atualmente realiza
Pós-Doutorado (3), na Université Rennes, com foco na Didática da Ginástica
Rítmica.
2 comentários:
Oi Patricia, dá um alô pra gente. Abração, Socorro Craveiro.
Oi Patricia, dá um alô pra gente. Abração, Socorro Craveiro.
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